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XI Encontro Nacional de Estudantes Indígenas começa destacando a importância da permanência indígena no ensino superior

Mulheres Tikuna conduziram o canto cerimonial de abertura do XI ENEI. Foto: Rodrigo Duarte/ENEI

O XI Encontro Nacional dos Estudantes Indígenas (ENEI) teve início nesta segunda-feira (16) no Centro Cultural Athos Bulcão, na Universidade de Brasília (UnB). Sob um céu coberto pela fumaça das queimadas que atingem a capital federal, o evento reúne delegações indígenas de todo o país para uma programação que inclui debates, conferências e diversas atividades.


Organizado pela Associação dos Acadêmicos Indígenas da UnB (AAIUnB), o encontro, que se estende até o dia 19 de setembro, conta com o apoio de instituições como o Ministério dos Povos Indígenas (MPI), a Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai), a Bancada do Cocar, a Secretaria de Esportes do Governo do Distrito Federal, a Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) e o Instituto Sociedade, População e Natureza (ISPN).


A cerimônia de abertura foi marcada por uma apresentação cultural do povo Tikuna, do Amazonas. Um dos momentos mais emocionantes foi a homenagem póstuma ao médico Ornaldo Sena, indígena do povo Huni Kui, falecido este ano em decorrência de uma pancreatite. Estudantes da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar) conduziram a cerimônia, que deu nome à premiação que reconhecerá os melhores trabalhos acadêmicos apresentados durante o evento.


A mesa de abertura contou com a presença de diversas autoridades, entre elas Débora Silva dos Santos, da Secretaria de Direitos Humanos da UnB; Mislene Mendes, representante da presidência da Funai; Kleber Karipuna, da Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (APIB); Rosilene Tuxá, do Ministério da Educação; Manuele Tuyuka, da Associação dos Acadêmicos Indígenas da UnB; e Eliel Benites, do Ministério dos Povos Indígenas (MPI).


Nos discursos, destacou-se a importância das políticas de permanência nas universidades e a luta pelos direitos indígenas por meio da educação. Homenagens foram prestadas às lideranças indígenas que, apesar de não terem tido acesso ao ensino superior, lutaram para que as novas gerações pudessem ocupar esses espaços acadêmicos.


Primeira conferência: desafios e resistência


Convidados da primeira conferência do XI ENEI. Foto: Levi Tapuia/ENEI

A primeira conferência, com o tema "20 anos demarcando as universidades: luta e resistência, garantindo a permanência", trouxe à tona a importância da educação de qualidade na garantia dos direitos e na valorização das culturas indígenas. O antropólogo e professor indígena Felipe Tuxá ressaltou o impacto positivo das políticas de cotas no cenário educacional, afirmando que a política indigenista hoje é diferente graças à presença de indígenas que, beneficiados por essas ações afirmativas, estão ocupando novos espaços. "Enfrentamos muitos desafios, sendo os primeiros indígenas em diversas salas de aula. Hoje, acumulamos conhecimento e seguimos ocupando esses espaços ancestrais", destacou.


Giovana Mandulão, coordenadora da Gestão do Conhecimento e Informação, reforçou a necessidade de assegurar a presença indígena nas universidades, enquanto o médico Idjarrury Kaingang enfatizou a importância da interculturalidade, especialmente nos cuidados de saúde. "A demarcação não é apenas territorial, é cultural. Precisamos de uma abordagem intercultural na saúde, pois somos sujeitos interculturais", afirmou.


Tarde de debates: políticas afirmativas e educação indígena


A segunda conferência, intitulada "Ensino superior e indígenas – a importância das políticas afirmativas", reuniu as profissionais indígenas Samara Pataxó, Rutian Pataxó, Izabel Munduruku e Geovane Pankararu, Marília Krahô, Kellen Kaiowá. Rutian Pataxó destacou a relevância de permanecer na academia, ampliando a extensão universitária e promovendo a desconstrução de uma universidade que respeite as culturas indígenas. "Nossa presença fez a diferença. É preciso deixar frutos, para que a semente que plantamos floresça e contribua para a transformação das universidades", afirmou.


Izabel Munduruku, por sua vez, destacou o papel do Movimento dos Estudantes Indígenas do Amazonas (MEIAM) na conquista de vagas reservadas para indígenas na Universidade do Amazonas em 2003. Ela enfatizou que o movimento segue lutando por políticas públicas e afirmativas que contemplem todos os estudantes indígenas no estado. "Não queremos que as políticas beneficiem apenas um coletivo, mas que todos os indígenas do Amazonas sejam contemplados", disse.


Oficinas temáticas e informes sobre a estruturação da primeira universidade indígena do Brasil


Oficinas da tarde. Levi Tapuia/ENEI

A primeira rodada de oficinas temáticas também aconteceu durante a tarde do primeiro dia. Os temas foram: Grafismos indígenas como forma de resistência cultural e política; Perspectivas de gênero e LGBTQIA+ nos Direitos Humanos; Mulheres indígenas moldando o futuro; Saúde mental e racismo nas universidades;  Justiça de transição e Povos indígenas: novos desafios. No final das discussões houve socialização dos resultados. 


Os debates da tarde se encerraram com uma discussão sobre a criação da primeira universidade indígena do país, uma iniciativa conduzida pelo Ministério dos Povos Indígenas, Ministério da Educação e Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai). Representantes desses órgãos apresentaram os avanços no processo de criação da nova instituição.


As atividades noturnas contaram com a participação da ministra Sonia Guajajara, do Ministério dos Povos Indígenas (MPI). Acompanhada da sua equipe executiva, a participação da ministra abriu a noite cultural do ENEI. O encerramento do primeiro dia aconteceu com a manifestação da diversidade de danças, cantos e expressões artísticas dos estudantes indígenas.




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